texto escrito para a matéria Educação Ambiental – Instituto de Geociência Unicamp,
por Angela Podolsky
Vivo hoje para defender causas ambientais em que os principais afetados estão adormecidos. Estou convicta, que é uma luta em prol de toda a sociedade, especialmente para as comunidades que, já são, ou que ainda serão atingidas pelos danos provados à Natureza. Os maiores danos estão sendo promovidos pelos interesses econômicos que controlam as políticas públicas do município.
Considerando os apontamentos do autor Marco A.S. Malagodi, no capitulo CONFLITOS de Encontros e Caminhos em que: a Natureza é um estoque de valor a ser conservada e um campo de expansão de empreendimentos incompatíveis com sua conservação; a injustiça ambiental está onde os mais pobres são os primeiros a serem atingidos pelo dano ambiental; as crenças e interesses rivais disputam a construção de uma nova versão da realidade.
Não existe formulas prontas, portanto, cada célula de conhecimento genuíno precisa ser provocada, atiçada. E nada melhor do que uma boa polêmica para desestabilizar a dominação social. O conflito pode ser uma alavanca necessária de mudanças.
Trago como exemplo o fim da área rural do município. O Plano Diretor do município, decidido sem uma discussão ampla com a sociedade, foi alterado em 2018. O novo zoneamento extingue um território que viviam pessoas com hábitos e atividades rurais. O desmonte feito ao longo dos anos, da Secretaria Municipal da Agricultura, a disseminação da ideia que Campinas não tem vocação rural, o fim dos incentivos ao produtor rural já demonstravam os interesses da especulação imobiliária para este território. Sabidamente esta fatia da população já vinha migrando para o Centro por falta de oportunidades no campo e desmoralização da atividade rural. Se trata de uma estratégia da dominação que se baseia em arrastar e restringir a atenção para alguns “focos” pré-construídos de realidade (Paulo Freire).
O avança urbano sobre áreas rurais é um dos fenômenos antropogênicos que mais degrada o meio ambiente, ou seja, a luta pela preservação do cinturão verde do município é urgente para salvar a vida. Como “atiçar” esta população que está sendo expulsa gradativamente do seu território a aderir ao movimento social existente? Um movimento social promovido por uma camada da sociedade já está desperta para as emergências climáticas.
Se faz necessário uma construção artesanal da valorização do homem do campo. A promoção da ingenuidade para a criticidade não se dá automaticamente, uma das tarefas precípuas da prática educativo-progressista é exatamente o desenvolvimento da curiosidade crítica, insatisfeita, indócil. Curiosidade com que podemos nos defender de “irracionalismos” decorrentes ou produzidos por certo excesso de “racionalidade” de nosso tempo altamente teologizado. (Paulo Freire). Cocriar uma sociedade periurbana com a função de manter a água pura e a floresta em pé em áreas quase que exclusivamente urbanas. Não há criatividade sem a curiosidade que nos move e que nos põe pacientemente impacientes diante do mundo que não fizemos, acrescentando a ele algo que fazemos. (Paulo Freire).
O território rural de Campinas depende do despertar desta população. A sobrevivência das últimas áreas verdes e dos rios que cortam a região metropolitana necessitam de população residente que preserve a função original da terra: permeabilidade, produzir alimentos, preservar rios e vegetação nativa, entre outras. A extinção da zona que estabelecia o permitido e proibido entre as atividades rurais e urbanas, que está descolocando os moradores rurais para as áreas urbanizadas, está provocando um impacto ambiental irreversível para a cidade.