A MATA RIBEIRÃO CACHOEIRA COM PERMISSÃO PARA CRESCER!

“A prioridade é manter preservados os remanescentes florestais nativos que sobraram em pé e reflorestar as áreas apontadas como prioritárias para a restauração. Mas se tiver que escolher entre uma e outra, frear o desmatamento faz mais sentido. Eu gosto sempre de frisar que a gente não pode usar a restauração para desviar a atenção da importância da conservação. Um hectare conservado é imensamente mais importante para as questões que a gente tem falado de clima, biodiversidade, etc, do que um hectare restaurado – no mesmo bioma e nas mesmas condições”. (Ricardo Rodrigues, Bernardo Strassburg)

Estando na área rural da APA de Campinas, a Mata RIBEIRÃO CAHOEIRA (MRC) ainda tem a possibilidade de cumprir sua função de mata núcleo: a conexão, através de corredores ecológicos, com as 50 florestas próximas. Em 2022 sua área está próxima a 300 hectares , em 2006, época do seu tombamento, sua demarcação apontou uma área de 233 hectares de Floresta Estaciona Semidecidual de Mata Atlântica.

A ONG APAVIVA foi criada para proteger ao maior fragmento de Mata Atlantica da Região Metropolitana de Campinas. Em 2010, a ONG começa uma peregrinação aos órgãos públicos para criar a Unidade de Conservação de Proteção Integral, refúgio da vida silvestre na Mata Ribeirão Cachoeira.

A  área de remanescente florestal da Mata do Ribeirão cachoeira (MRC)  é o mais preservado fragmento florestal de Campinas, e é considerada a mata “núcleo” da APA devido a sua baixa pressão antrópica e alta biodiversidade. A proximidade com área urbana e a pressão imobiliária ameaçam o fragmento. A presença da onça parda – Puma Concolor é o indicador de bom grau de conservação da mata, além da “Almeidea coerulea”, representante da flora ameaçado de extinção encontrada na MRC. Um longo histórico de pesquisa científica confirmam a categoria de proteção integral sugerida.

A FAUNA SILVESTRE

diversidade faunística: 475 espécies.

A fauna silvestre original de Campinas é característica de cerrado e floresta estacional semidecidual, principais biomas encontrados no município. Com a expansão da ocupação humana e a consequente degradação dos ambientes naturais, a fauna apresentou grande mudança na constituição das populações de vertebrados, favorecendo algumas espécies em detrimento de outras (MIRANDA, 2003).

Segundo Betini (1997 apud GASPAR, 2005) a MRC conta com 106 espécies de aves, dentre elas jacús (Penelope jacuguaçu), tucanos (Ramphastos toco), papagaios (Amazona aestiva), pequenas aves da família Dendrocolaptidae e corujão mateiro (Pulsathrix koeniswaldiana). Gaspar (2005) identificou mais de 30 espécies de mamíferos, inclusive a onça-parda, a jaguatirica, o gato-maracajá e o lobo guará,

dentre outros representantes da fauna que constam na lista oficial de fauna ameaça homologada pela Instrução Normativa 03/03, reforçando a importância da conservação desse fragmento. A classificação das categorias de ameaça (criticamente em perigo e vulnerável) utilizada para a elaboração da lista seguiu os critérios adotados pela União Mundial para a Natureza (IUCN). Esses critérios analisam os dados referentes a tamanho, isolamento, declínio populacional das espécies e extensão das áreas de distribuição (BIODIVERSITAS, 2012). A lista das espécies pode ser observada na tabela 2.

Tabela 2 – Lista de mamíferos não voadores da Mata Ribeirão Cachoeira. Modificada de Gaspar (2005).

A fauna da Mata Ribeirão Cachoeira possui maior predominância de espécies generalistas que são mais tolerantes a perturbações ambientais e influências antrópicas (CASTILHO, 2010). Todavia, a riqueza de espécies é significativa, contendo representantes carnívoros, frugívoros e herbívoros (GASPAR, 2005). Apesar de haver manutenção da riqueza de espécies na MRC, a fauna da mata está exposta a perigos, como atropelamentos, pois está inserida em um contexto urbano, e presença de animais domésticos, que entram na mata para caçar mamíferos além de poder transmitir doenças (GASPAR, 2005). A presença de onças e gatos-do-mato é um indicador da boa conservação da mata, pois essas espécies, assim como outros mamíferos predadores, geralmente precisam de áreas maiores para sobreviver (GASPAR, 2005). Entretanto, além de a comunidade de médios e grandes mamíferos estar simplificada, sendo composta por espécies generalistas em detrimento dos grandes predadores, em pesquisa realizada por Castilho (2010), a ocorrência dos mamíferos carnívoros foi menos freqüente e abundante. Esse dado mostra que essas espécies utilizam o fragmento como trampolim ecológico. Por esse motivo é importante à conservação desse fragmento, pois, apesar de não ser capaz de manter a viabilidade de populações de grandes mamíferos, é essencial para a manutenção da biodiversidade da fauna regional. Da mesma forma, para a manutenção da riqueza biológica da mata, é imprescindível a presença de corredores ecológicos que permitam a passagem de fauna, assim como mata ciliar ao longo das APPs e presença de outros fragmentos menores (GASPAR, 2005), importantes para aumentar a conectividade entre fragmentos, facilitando o fluxo gênico das espécies (CASTILHO, 2010). É importante lembrar que o fluxo de fauna entre diferentes fragmentos é essencial para a diversificação gênica da flora também, pois diferentes espécies da fauna atuam como polinizadores e dispersores de sementes.

FAUNA MATA RIBEIRÃO CAHOEIRA
Ordem Nome científico Nome comum Categoria de ameaça
Xenarthra Dasypus novemcinctus Tatu-galinha
Primates Alouatta guariba Bugio CR
Alouatta fusca Bugio-ruivo
Callicebus nigrifrons Sauá
Callicebus personatus Sauá VU
Callithrix jacchus Sagüi-tufos-brancos
Callithrix aurita Sagui-da-serra-escuro VU
Cebus nigritus Macaco-prego
Carnivora Cerdocyon thous Cachorro-do-mato
Canis familiaris Cachorro-doméstico
Chrysocyon brachyurus Lobo-guará VU
Puma concolor Onça-parda VU
Leopardus pardalis Jaguatirica VU
Leopardus wiedii Gato-maracajá VU
Leopardus spp Gato-do-mato
Herpailurus yaguaroundi Jaguarundi
Lontra longicaudis Lontra
Eira barbara Irara
Galictis cuja Furão
Procyon cancrivorous Mão –pelada
Nasua nasua Quati
Mazama cf. guazoubira Veado
Coendou villosus Ouriço
Agouti paca Paca
Hydrochaeris hydrochaeris Capivara
Oligoryzomys nigripes Rato-do-mato
Akodon montensis Rato-do-chão
Rhipidomys mastacalis Rato-da-árvore
Oecomys cf. concolor Rato-arborícola
Nectomys squamipes Rato-d´água
Sciurus ingrami Esquilo
Sciurus aestuans Caxinguelê
Lagomorpha Silvilagus brasiliensis Tapiti
Didelphimorphia Gracilinanus microtarsus Cuíca
Caluroys philander Cuíca-lanosa
Didelphis aurita Gambá-de-orelhas-pretas

FLORA

Riquesa de 119 espécies de 49 famílias

“Foi realizado inventário florístico das árvores e arbustos da mata Ribeirão Cachoeira (233,7ha, altitude 650m, coordenadas 46°55’58”W, 22°50’13”S), o segundo maior e mais bem conservado fragmento de floresta estacional semidecidual do município de Campinas, SP. O solo característico é o Podzólico Vermelho Amarelo e o clima é Cwag’ de Köppen. As coletas foram feitas durante o período de agosto/1996 a setembro/1997. Foram incluídos apenas indivíduos férteis com perímetro a altura do peito igual ou superior a 9cm. Foram encontradas 175 espécies de 119 gêneros e 49 famílias. As famílias mais ricas foram Myrtaceae (14 espécies), Rutaceae e Fabaceae (13), Caesalpiniaceae (11), Solanaceae (9) e Rubiaceae (8). Algumas espécies foram encontradas pela primeira vez na região: Tachigali multijuga Benth. e Schoepfia brasiliensis A.DC. A floração foi maior entre agosto e outubro. A frutificação foi maior nos meses de agosto a novembro. A maioria das espécies encontradas é zoocórica (58%), as anemocóricas foram 23% e as autocóricas 19%. Compararam-se as relações florísticas desta mata com outros 20 levantamentos do Estado. Os resultados obtidos indicaram a formação de dois grupos distintos. O mais homogêneo deles inclui as florestas do município de Campinas, mostrando que, possivelmente, são remanescentes de uma vegetação originalmente contínua. (Karin Santos).”

“Com exceção da mata do Ribeirão Cachoeira, onde se mantém o equilíbrio do sistema, os demais fragmentos apresentaram um dossel mais aberto, o que significa árvores com menos folhas e com galhos quebrados, sofrendo pressões do vento ou de queimadas. Da mesma forma, na mata do Ribeirão há equilíbrio entre as plantas jovens e as que estão morrendo, enquanto em outras os percentuais chegaram a 50% de espécies extremamente debilitadas, contra apenas 8% que entravam no sistema. “Tudo isso indica uma degradação futura. Sem o combate às queimadas e o replantio de espécies nativas, esses fragmentos podem desaparecer naturalmente. Por sorte, a escala de tempo de uma árvore é bem diferente da nossa”.

Tese: Características florística e estrutural de 11 fragmentos da mata estacional semidecidual da APA de Sousas e Joaquim Egídio (Campinas).  link: https://www.scielo.br/j/abb/a/9RNzZmvNfjvTRnyhg8ZvcRg/
Unidade: Instituto de Biologia
Autora: Karin dos Santos
Orientadora: Luiza Kinoshita
Co-orientador: Flavio dos Santos

VEGETAÇÃO NATURAL

A Campinas do Mato Grosso e a fragmentação

A coleção “Sesmarias, engenhos e fazendas do Arraial de Souzas Joaquim Egidio e Jaguary“, organizado pela historiadora Suzana Barreto, mergulha na história de Campinas e recupera aspectos históricos relacionados ao cotidiano, território, escravidão, imigração, flora e fauna da região. O terceiro e ultimo livro da série descreve a flora e a fauna de Souzas, Joaquim Egidio e Jaguary. Ele recupera aspectos de uma realidade passada e historiciza o desmatamento da Mata Atlântica descrevendo o processo de extermínio da fauna que a região vem sofrendo desde a chegada dos colonizadores. A MRC, é um dos últimos remanescentes florestais da Campinas do Mato Grosso.

No início do século XIX, Campinas era constituída por um mosaico vegetal composto por florestas, cerrados e campos. As florestas eram altas e densas, com grandes árvores de troncos retilíneos e estavam associadas com solos provenientes de rochas cristalinas ou intrusivas básicas, como Floresta Latifoliada Perene. O cerrado, vegetação menos densa que a floresta, era composto de arbustos e árvores de pequeno, médio e grande porte, de troncos retorcidos e suberosos, se relacionava a solos arenosos, pobres e antigos na região meridional de Campinas. Enquanto os campos ocupavam áreas pequenas e descontínuas do município, com gramíneas e árvores de pequeno porte e arbustos esparsos (SAINT-HILAIRE, 1953; CHRISTOFOLETTI & FEDERICI, 1972 apud FUTADA, 2007; CHRISTOFOLETTI, 1968 apud SANTIN, 1999).

Santin (1999) amplia um pouco esse mosaico ao ressaltar que Campinas era originalmente coberta pelas formações vegetais: Floresta Estacional Semidecidual (FES), Vegetação Rupestre dos Lajedos Rochosos, Floresta Higrófila/Paludosa, Cerrado/Savana e Campina. A FES abrangia uma grande porção da área central de Campinas se estendendo para o extremo leste bem como a noroeste, atingindo uma porção de Barão Geraldo, onde se encontrava com o Cerrado que estava presente nessas áreas em manchas pontuais. O Cerrado também estava presente em parte da região central do município. A região da UNICAMP deveria ser uma zona de transição entre o Cerrado e a FES. As regiões oeste e sul eram cobertas predominantemente por Cerrado, com algumas manchas de Floresta Estacional Semidecidual e de campina, sendo que o Cerradão da região sul cobria a área onde hoje é o Aeroporto de Viracopos (SANTIN, 1999).

No século XX, sobretudo a partir de 1950 a cobertura vegetal foi reduzida drasticamente em todo país, em Campinas infelizmente não foi diferente. Segundo Serra Filho et al. (1974 apud Santin, 1999) após 1970 apenas 2,16% da área do município estavam cobertos por vegetação natural, distribuídas em mata (0,67%), capoeira (0,8%), campo Cerrado (0,27%) e Cerrado (0,42%).

De acordo com Santin (1999), o processo desordenado de uso e ocupação das terras do município, associado à degradação da vegetação, culminou em pequenas áreas de mata nativa isoladas em fragmentos, circundados por área urbana, monoculturas e pastos. Esses remanescentes estão distribuídos em quatro formações vegetais: Floresta Estacional Semidecidual (94,77%), com variações – Florestas Ciliares, Florestas de transição, Florestas de Altitudes ou Montanas; Vegetação Rupestre dos lajedos rochosos; Florestas Paludosas (2,01%); Cerrados ou Savanas (3,22%), sendo que as campinas que inspiraram o nome do município foram totalmente extintas (SANTIN, 1999). Necessário ressaltar que a presença de formações vegetais tão diferenciadas como as FES e o Cerrado, numa mesma região, demonstra a grande importância ecológica desta área, que inserida em uma zona de transição apresenta uma ampla diversidade de espécies vegetais e animais. A Mata Ribeirão Cachoeira, de acordo com o descrito em Santos (1998), apresenta indícios de perturbações de origem antrópica na forma de clareiras com variados estágios de regeneração. Apesar disso, esse fragmento apresenta uma alta similaridade com outras vegetações remanescentes do Município, devido a sua diversidade de espécies vegetais, sendo de interesse estratégico a sua conservação.

AS 50 FLORESTAS APA E A SUA MATA NÚCLEO

Mata Ribeirão Cachoeira

A missão da APAVIVA é buscar mecanismos para conservar a mata nativa que possuimos. Uma luta pelos remanescentes ameaçados.

Um hectare conservado é imensamente mais importante para as questões de alteração climatica, biodiversidade, qualidade de vida, etc, do que um hectare restaurado – no mesmo bioma e nas mesmas condições. Se tiver que escolher, escolhemos pela conservação das florestas.

OS 50 remanescentes florestais de MATA ATLÂNTICA NA APA DE CAMPINAS, são de exterma importancia do ponto de vista de conservação, e são protegidos pelo Plano de Manejo e pela Lei da APA de Campinas.

Neste mapa abaixo , está apontado os remanescentes de mata nativa, tendo a mata RIBEIRÃO CACHOEIRA como núcleo, além dos corredores ecológicos que fazem a conexão entre elas.

A lei  Complementar 296/20  traz no Art. 17 que os 50 remanescentes de mata nativa são também considerados de preservação permanente (APPs).

Lei Complementar 296/20  – atual lei da APA de Campinas – Unidade de Conservação de Uso Sustentavel.

“Art. 17. São também considerados de preservação permanente os seguintes remanescentes de matas nativas:

 

(1) Rodovia Heitor Penteado (Sanasa); 3,84 ha (2) Fazenda Santa Terezinha; 10,1 ha
(3) Fazenda Santana; 57,89 ha (4) Fazenda Santana do Lapa; 2,6 ha
(5) Sítio Cambará; 5 ha (6) Mata da encosta da linha do trem; 3,94 ha
(7) Fazenda São João; 18,19 ha (8) Sítio São José; 3,36 ha
(9) Estância Santa Izabel (fragmento maior); 13,77 ha (10) Loteamento Caminhos de São Conrado; 7,63
(11) Estância Santa Izabel (fragmento menor); 2,63 ha (12) Fazenda Fazendinha; 6,6 ha
(13) Ribeirão Cachoeira (fragmento menor); 8,65 ha (14) Ribeirão Cachoeira (fragmento maior); 300ha
(15) Fazenda Espírito Santo do Atibaia; (16) Fazenda Espírito Santo – Fazenda Leão;
(17) Haras Passaredo/Fazenda Senhor Jesus; (18) Mata Ciliar do Solar das Andorinhas;
(19) Fazenda Santa Rita do Mato Dentro; (20) Fazenda Recreio (fragmento maior);
(21) Fazenda Recreio (fragmento menor); (22) Isoladores Santana;
(23) Usina Macaco Branco; (24) Fazenda Iracema (fragmento menor);
(25) Fazenda Iracema (fragmento maior); (26) Fazenda Santana do Atalaia (fragmento maior);
(27) Fazenda Santana do Atalaia (fragmento menor); (28) Fazenda Ribeirão;
 (29) Sítio Lage Grande; (30) Mata Jaguari;
(31) Fazenda Santo Antônio da Boa Vista; (32) Fazenda Monte Belo;
(33) Fazenda Alpes; (34) Fazenda Capoeira Grande;
(35) Fazenda São Lourenço; (36) Fazenda Cabras;
(37) Fazenda São Joaquim (velha); (38) Sítio 2 Irmãos/Faz São Joaquim/ Fazenda Cabras;
(39) Fazenda Santa Mônica; (40) Fazenda Malabar;
(41) Fazenda Guariroba; (42) Fazenda Santa Helena;
(43) Fazenda São Francisco de Assis; (44) Solar das Andorinhas;
(45) Fazenda Leão/Fazenda Espírito Santo do Atibaia; (46) Fazenda Angélica;
(47) Sítio Cubatão; (48) Morada das Nascentes;
(49) Chácara Taquara; (50) Fazenda Santa Luíza/Fazenda Guariroba